Entrevista com Neimer Masotti
Sua origem em família espírita e a necessidade, por questões profissionais, de mudar-se diversas vezes de cidade fizeram de Sr. Neimer Sebastião Masotti um depositário e disseminador da cultura espírita. Fizeram também com que ele, como trabalhador em diversas frentes de trabalhos, mantivesse uma visão bastante arejada sobre delicadas interpretações acerca do nosso comportamento diante dos fundamentos espíritas. Sua experiência na direção de reuniões de desobsessão iniciou-se em 1962 e em quase todas as cidades por que passou, teve a oportunidade de dirigir grupos de trabalhos. Vindo para São Paulo em 1982, passou a fazer parte da equipe de colaboradores do Centro Espírita União, no bairro Jabaquara, uma casa bastante conhecida pela organização e diversidade de trabalhos, principalmente na divulgação doutrinária, com programas de rádio, TV e editora. Convidado a falar sobre reuniões mediúnicas, nos concedeu esta simpática entrevista!
Correio Fraterno: O que de mais importante o senhor colheu nesses anos todos participando em reuniões mediúnicas?
Neimer Masotti: No esforço de entender as pessoas, você acaba tendo obrigação de se renovar. Diante disso, os conceitos que eram tidos como finais antigamente, com o passar do tempo adquiriram para mim outros valores.
Quando comecei com certo grupo mediúnico, quis transmitir e ao mesmo tempo me investi de humildade. Então sempre dizia que os espíritos era quem tudo faziam. Me colocava como simples colaborador. Um dia eles me disseram que quem fazia éramos nós. Eles colaboravam fazendo a parte deles. Fiquei muito desajeitado e desapontado, pois senti como se fosse uma censura. Por que eles não achavam boa aquela minha posição? Não é interessante que sejamos humildes, sem reivindicar nenhum direito, nem mérito? A partir daí percebi que muito malandramente eu estava transferindo para eles a responsabilidade e ao dizer que somente eles é quem fazem eu deixava a idéia de que nada do que desse errado era culpa minha.
Entretanto todos os espíritos atuam, ainda que seja na sutilidade, no envolvimento para que assumamos posição. Se você em busca de orientação diz ao dr. Bezerra [de Menezes] que está pensando em fazer… ele não espera você acabar a frase e diz: faça! Porque no fazer você erra, acerta e faz.
Os espíritos são peças imprescindíveis. Não se faz sessão mediúnica sem espíritos. A organização é fundamental dos dois lados. Mas não cogite em transferir a responsabilidade absoluta para o outro plano. Quer assumir? Assuma. Não quer? Não é obrigado! Gosta de fazer? Faça, agüente as conseqüências e colha os méritos. No começo cometemos os erros, depois vai diminuindo. Sei lá se vai diminuindo. Vamos tendo mais experiências e percebendo falhas que antigamente não percebíamos.
C.F.: Kardec fala muito sobre a necessidade do preparo para reunião. Como fica o preparo do médium, com a falta de tempo e correria da atualidade?
N.M. Quando nós falamos em preparo, logo nos lembramos de algumas providências. Descansar antes da sessão, meditar, ler, o que realmente não deixa de ser a melhor forma para se preparar. Mas quando você está atropelado pelas circunstâncias, você deve ir à sessão mediúnica sem o remorso de não ter se preparado. Nestas situações, muitas vezes você desenvolve umas ações brilhantes, agradáveis. Em outras, muito embora você se prepare, o desempenho fica a desejar! Não se pode condicionar o desempenho exclusivamente à preparação. Mas nem por isso o médium pode achar que não mais é necessário se preparar. É interessante a expressão preparar. Se você está em atividade e interagindo na vida diária com pessoas, muitas vezes estabelece ligações que poderão contribuir com os trabalhos a serem realizados na sessão mediúnica, encaminhando para lá espíritos necessitados. Quem está em atividade tem mais possibilidade de realizações. O Chico [Xavier] tinha muita facilidade de trabalhar mediunicamente, mas quando estava sem fazer nada ia procurar o pobre, o presidiário, o doente, fazendo a interação.
C.F.: Kardec explana ricamente sobre as características para uma boa reunião. Mas na visão do senhor, qual o segredo para um grupo mediúnico bem equilibrado?
N.M.: Quando Chico começou a trabalhar foi recomendado se apoiasse em três pilastras: disciplina, disciplina, disciplina. O grupo precisa muito de disciplina, porque ela serve para ordenar e não deixar se criar desvios. Mas apenas com disciplina o grupo não produz. Não haverá o motor da ação de realização, só há contenção. O que faz a realiza