Antes de conhecer Chico Xavier, frequentávamos alguns núcleos espíritas, tais como o Grupo Espírita Batuíra e a Federação Espírita do Estado de São Paulo – FEESP. Por meio dessas visitas aos grupos espíritas tomamos conhecimento do notável médium. A leitura dos livros psicografados por ele despertou-nos o interesse em conhecê-lo pessoalmente.
Em maio de 1959, viajamos em uma caravana de aproximadamente 20 pessoas, entre frequentadores e os dirigentes dos grupos – Dr. Américo Montagnini, da FEESP e Espártaco Ghillardi, médium e dirigente do Grupo Batuíra.
Chico dedicou atenção especial para nós, como se fossemos velhos amigos. Tempos depois, ele nos confidenciou que Emmanuel havia prometido que ele reencontraria familiares de outras vidas, já reencarnados em São Paulo. Naquela época, Chico mudara-se recentemente para Uberaba e sentia falta de seus familiares. Consolava-se com as palavras de Emmanuel e esperava a nova família do passado que chegaria em breve.
Ele nos reconheceu prontamente. Nós sentimos profunda atração por ele, mas tivemos alguma dificuldade em relembrar o passado que pouco a pouco foi surgindo. Voltamos assiduamente a Uberaba para visitá-lo.
Nesses encontros fraternos foram acentuando-se as lembranças do passado e a alegria no trabalho doutrinário espírita. Junto com Chico, fomos conhecer dona Aparecida Conceição Ferreira, quando ela começava seu trabalho social pioneiro com os enfermos do pênfigo. A assistência aos doentes do fogo selvagem era incipiente, não havia locais para abrigo e tratamento de seus portadores. Assim começou nosso trabalho fraterno junto aos mais carentes, ajudados pelas mãos de Chico Xavier.
Em 18 de dezembro de 1965, durante uma das visitas a Uberaba,Chico psicografou uma mensagem de Dr. Bezerra de Menezes na qual ele nos incentivava a retornar ao trabalho mediúnico, abandonado por nós há algum tempo:
“Galves meu filho, Jesus nos ampare sempre. Temos ouvido os seus desejos, registrado os seus ideais no sentido de retorno ao serviço mediúnico propriamente considerado. Em verdade, a tarefa não deve ser interrompida por longo tempo.Você e a companheira realmente necessitavam da chamada pausa de recuperação no repouso psíquico preciso, mas agora cremos seja possível a reconstituição do trabalho…
…A idéia do grupo íntimo com finalidade de desobsessão é um plano feliz, para cuja execução rogamos o amparo da Providência Divina.
…Não convém que a obra comece no lar, à vista das responsabilidades que o socorro dos espíritos menos felizes acarreta. Convém sim que o agrupamento inicie as atividades no ambiente adequado, para o que um recinto definido é a condição ideal.
O conjunto pequeno, como é necessário à formação de corações fraternos, poderá reunir-se uma vez por semana, à noite, e pouco a pouco as diretrizes virão, de vez que é aconselhável dar tempo ao tempo e verificar o desenvolvimento da nova planta de amor fraternal na Terra do Cristo, aquele distrito das melhores esperanças e dos melhores pensamentos de nossa vida.”
Em outra mensagem, ele reforçava a necessidade das orações no ambiente familiar e do diálogo entre o casal, de modo a fortalecer o propósito de iniciar um núcleo espírita:
“… Continuemos na tarefa da edificação mental, na certeza de que já podemos contar com o amparo da construção externa. É preciso nos decidamos levantar a construção íntima, aquela que se baseia no ajuste dos corações fraternos em uma obra de elevação espiritual em comum…
… Cada noite, retire com a nossa Nena um pequeno espaço de tempo, do tempo habitual para oração a dois, para alguns minutos de entendimento verbal sobre nossos planos, porque através da inspiração, trocaremos ideias todos juntos acerca dos alicerces espirituais do conjunto em via de se formar…”
Passamos a realizar o culto no lar. Reuníamos o grupo familiar semanalmente para oração e leitura de páginas do O Evangelho Segundo o Espiritismo. Durante este período preparatório de ambiente propício à formação de uma nova casa de estudos e trabalhos espíritas, nossas visitas a Uberaba continuavam assíduas. Mensagens chegavam por meio da mediunidade de Chico Xavier e Dr. Bezerra de Menezes nos incentivava à formação de um novo grupo espírita.
Nesse ínterim, havíamos recebido por herança dos avós de Galves uma casa no bairro do Jabaquara. Nossos familiares concordaram unanimemente em fazer uma doação, de modo a facilitar a concretização do ideal da formação de uma casa espírita.
Desde o tempo dos avós de Galves já se realizavam sessões espíritas nesse lar agora destinado ao Centro, evidentemente de uma maneira íntima. Naquela época, os cultos espíritas eram proibidos.
Os trabalhos se iniciaram com reuniões semanais de desobsessão em favor de um parente necessitado de auxílio espiritual.
Novas mensagens orientavam as reuniões públicas de evangelização:
“… Nossa casa doutrinária está erguida, indicada, preparada… …Sigamos adiante. O ambiente fraterno, a tarefa meditada, a experiência em início, a alegria do trabalho… No princípio, o nosso encontro no lar da fé: os espíritos libertos e vós outros, os obreiros do bem, vinculados ainda no plano físico… E no centro desse encontro de corações, um ente querido em necessidade espiritual, um amigo dileto a exigir assistência… Nosso conjunto nasceu desse modo, no âmago da família. Da família consanguínea partiu rumo à humanidade, nossa família maior.
Presentemente, urge organizar, dessa maneira, a reunião de evangelização em que os convidados de Jesus sejam servidos. Não há motivo para temores. Podemos agir sem hesitação. Escolhamos uma noite na semana para que o nosso templo se abra ao amparo popular. Estaremos todos juntos…
…Um templo espírita evangélico é o abrigo da solidariedade e da paz. É onde Jesus, por intermédio dos seus discípulos, recebe os irmãos da Terra para instruí-los e socorrê-los, com os mais necessitados em regime de preferência… “
“Nosso conjunto nasceu no âmago da família. Da família consanguínea partiu rumo à humanidade, nossa família maior.”
Bezerra de Menezes, sobre o Centro Espírita União, em mensagem ao casal Galves, psicografada por Chico Xavier.
Lembramos aqui mais algumas palavras de Dr. Bezerra de Menezes em mensagens posteriores:
“…As nossas reuniões para desobsessão prosseguem ativamente e produtivas. Não importa o número iniciante. Virão outros companheiros e não convém ampliar o serviço sem noções de responsabilidade nos chamados a executá-lo…devemos orientar o passo no sentido de realizar mais uma reunião para o Evangelho e Doutrina Espírita, e a formação de tarefa educativa em favor da criança… uma escola singela, onde nossos pequenos encontrem ideias e emoções preparatórias do conhecimento maior… “
Na pequena casa do Jabaquara, as atividades doutrinárias se realizavam regularmente, conforme os textos de Kardec e as orientações espirituais de André Luiz, Dr. Bezerra e Emmanuel, por meio da mediunidade de Chico Xavier.
Em 5 de abril de 1963 foi inaugurada a sede do Centro Espírita União. A escolha do nome foi sugestão de Dr. Bezerra, em nova mensagem psicografada:
” …Quanto à denominação, filhos, cremos que deva atender à inspiração que lhes é própria.
Conhecemos o devotamento com que se confiam a Kardec, o codificador inesquecível, e sabemos que todos nós reverenciamos nele o companheiro maior que nos conduz até a esfera do pensamento real do Cristo, nos ensinando a assimilar-lhe a divina luz.
Entre Jesus e Kardec, escolherão o nome que mais nos convenha ao instituto da fraternidade agora em nossos braços, refletindo nisso e meditando na sagrada aliança entre o Mestre e o Discípulo.
Se de nossa parte pudermos sugerir um título, inclinar-nos-íamos para o nome de Centro Espírita União, de vez que essa união reuniria um e outro, ao mesmo tempo em que significaria o nosso propósito de confraternização positiva, diante do Evangelho e da codificação kardequiana… “
Aumentava a cada dia o número de frequentadores e famílias assistidas pela Casa. À procura de melhor atender àqueles que buscavam acolhimento, trabalho e estudo nessa casa espírita, o Centro Espírita União ampliou suas instalações.
Eventos eram promovidos regularmente e companheiros dedicados auxiliavam no projeto e construção de um local mais amplo, de modo a melhorar os recursos para continuidade do trabalho a serviço do próximo.
As crianças já eram atendidas no campo educativo. Semanalmente frequentavam as aulas de evangelização como sugeriu Dr. Bezerra de Menezes em uma de suas mensagens.
Famílias carentes recebiam cestas básicas, gestantes participavam do curso de puericultura e recebiam enxovais para os futuros bebês; adultos e crianças recebiam os medicamentos necessários para o tratamento indicado no atendimento médico e odontológico. Enfim o trabalho assistencial caminhava com muito sucesso.
Nessa época, mantínhamos também a livraria, que divulgava os livros espíritas e valorizava o estudo do Espiritismo. Empenhado na ampliação do trabalho doutrinário, Chico Xavier
incentivou a criação de uma nova editora espírita. Sentindo a motivação de Galves para essa atividade, Chico o presenteia com o livro Amigo, psicografado por ele com mensagens de Emmanuel. Com esse primeiro livro, nasce o Departamento Editorial do Centro Espírita União. Inicialmente foram dez mil exemplares. Na segunda edição, mais cinco mil. Outras edições dessa mesma obra se sucederam.
Novos volumes psicografados foram editados, tais como Livro de Respostas, Pronto Socorro, Caminho e outros. Todos apresentam mensagens de incentivo ao trabalho e progresso espiritual do homem.
Em diversas oportunidades, Chico recebeu presentes e heranças de grande valor. Nada permaneceu em suas mãos: ele tinha o hábito de transferir para alguma entidade assistencial como doação qualquer benefício material que recebesse, sem distinção quanto ao valor montante.
Certa ocasião o beneficiado foi o Centro Espírita União. Com a doação de um imóvel na Avenida Rangel Pestana n° 233, próximo à Praça da Sé, em São Paulo, Chico proporcionou uma sede própria para a Livraria Espírita União e para o Departamento Editorial. Inaugurada em 30 de abril de 1987, até 2006 foram publicados 73 livros – 68 psicografias de Chico e cinco de outros autores – e doadas 350 coleções completas de seu catálogo para diferentes bibliotecas de centros espíritas.
Estas doações ocorrem mediante pedido e são atendidas com grande satisfação. O Departamento Editorial distribui anualmente 300 mil mensagens pelas Américas, Europa, África e Ásia. Atualmente é também distribuidor de livros e mantém mais de cinco mil itens espíritas e espiritualistas, nacionais e internacionais. A renda obtida com a venda dos livros reverte-se em benefício das obras assistenciais do Centro Espírita União que atende aproximadamente 200 famílias carentes.
Além da manutenção desses trabalhos, a Editora e Livraria Espírita União viabilizou a aquisição de um imóvel à Rua Major Freire n° 510, no bairro do Jabaquara. Inaugurada em 30 de janeiro de 1998, a Escola Profissionalizante Chico Xavier atende jovens que buscam no aprendizado de informática e estética um trabalho correto como um meio para conquistar independência financeira e atuar dignamente na sociedade.
Em 2007 iniciou-se um novo projeto, o Centro de Educação Complementar, núcleo sócio-educativo com o objetivo de contribuir para o desenvolvimento de potencialidades infantis e para a construção da cidadania e de uma melhor qualidade de vida dos jovens junto a seus
familiares. Inicialmente recebeu 20 crianças de famílias carentes na faixa etária de 6 a 11 anos. O atendimento por quatro horas diárias ocorre no contraturno escolar durante os meses letivos. Com ênfase educacional e lúdica, oferece oficina de artes, histórias, expressão corporal, música,
informática, reforço escolar e atendimento psicopedagógico. As famílias recebem orientações quanto ao desenvolvimento infantil e necessidades observadas durante o tempo de trabalho realizado.
Desde outubro de 1976 o programa Visita Sonora vai ao ar pela Radio Boa Nova, 1.450 AM / 1.080 AM, produzido por uma equipe de colaboradores. Em 2000, iniciamos a produção do programa de televisão Vida Além da Vida. As gravações eram realizadas em estúdio próprio, na Escola Profissionalizante Chico Xavier, e os programas transmitidos semanalmente, aos sábados, às 22h30, pela TV Aberta para todo o Brasil, como ocorre até hoje.
O Centro Espírita União procura honrar o nome que Dr. Bezerra de Menezes sugeriu a esta instituição. Seus trabalhos incentivam o estudo e a fidelidade à codificação da Doutrina Espírita de Allan Kardec. Seguidora fiel dos ensinamentos do Evangelho Segundo o Espiritismo, esta casa espírita fundamenta suas diretrizes na união dos ensinamentos de Jesus e Kardec.
Por Nena Galves